quarta-feira, 16 de abril de 2014

Walking straight

...andar sozinho...estar sozinho...fazer coisas sozinho...é tão confuso para tanta gente...
...vamos ao café sozinhos...as pessoas partem do principio que estamos a fazer tempo...
...vamos ao cinema sozinhos...de forma complacente, perguntam-nos se queremos ficar na última fila..."porque o filme é de animação e as crianças podem fazer um bocado de barulho"...
...caminhamos sozinhos no meio dos grupos e dos casais abraços e as pessoas olham-nos com cara de quem não percebe...

...velho prazer, o de caminhar só...(...)...olhar em frente, mãos nos bolsos, caminhar relaxado sem hora para chegar ou partir...(...)...é tão bom...

...não me percebam mal...adoro caminhar acompanhado...namorada, amigos, família, quase estranhos...gosto...mas há alguma magia no caminhar só...energia contemplativa nos olhos que traçam o rumo...identificação com estranhos, sorrisos escondidos por observar algo a que se achou piada, simplesmente porque a forma de olhar é diferente...

...é dificil explicar...mas, só me faltava a mochila às costas...aquela que não gosto de ter nestas situações...gosto de ir, somente com o que tenho nos bolsos (e onde meto as mãos), no pensamento, e na vontade..é bom deixar-me levar pelo que a vida me coloca à frente...e hoje"soube-me a pato"...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Faz-te ao largo

...Ideias disformes como "saber esperar"...ideias  sublimes como "saber dizer"...ideias intrépidas como "conseguir compreender"...tudo se perde num mar revolto...tudo se consome numa tempestade sem vento...tudo se esgota numa desistência compulsiva de um baixar de braços e um olhar vago...

..."eu, sou eu e o outro"...
...isto torna a visão do outro tão importante como a minha? ...não! a minha visão de mim, é sempre mais importante...mas será que há mal no outro ter uma visão? ...às vezes há...outras vezes parece que há...outras vezes não...quando e como distinguir as situações?

..."eu, sou eu e o outro"...mas sou mais eu que eu e tu..e tu, sem mim, nunca serás eu...


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Pessoas diferentes...Praias diferentes

Esta imagem, juntamente com um video que vi, tem marcado o meu dia...


...Na imagem pode ver-se um homem...Raoni...lider tribal de etnia Caiapó...e esse homem está a chorar porque lhe deram a notícia de que a Presidente Dilma (Brasil), tinha autorizado a construção de uma barragem que inundará o terreno onde habita a sua tribo...

Passemos isso para os nossos dias...para a nossa cultura...o nosso governo quer fazer uma barragem...precisa do nosso terreno...mas nós temos um valor sentimental pelo nosso terreno, e esse terreno tem um preço que, ultrapassado, poderá sustentar qualquer realojamento e adaptação a uma nova realidade...
...será que uma tribo de indígenas, que sempre viveu no meio da selva...que se moldou Naquele habitat...que tem relações específicas com outras tribos que ocupam outras áreas na mesma floresta (nem sempre pacíficas)...que não confere ao seu terreno um valor económico...e cuja readaptação a uma nova zona/realidade poderá colocar em causa toda uma cultura, pode ser alvo do mesmo tratamento?

...estamos tão ocupados em "ficarmos todos iguais"...com maiores comodismos...que nos esquecemos do Ser "ligeiramente diferente" que vive no nosso quintal...sendo que não podemos deixar de colocar a pergunta: "será que é ele que vive no meu quintal, ou sou eu que vivo no quintal dele?"...porque somos iguais, e a minha cultura não é mais importante que a dele...baseamos-nos é em valores diferentes...

Pessoalmente, sempre gostei da ideia de existirem culturas diferentes...hábitos diferentes...
...enquanto miúdo houve algumas culturas e hábitos que desejei ver ao vivo...e que ainda desejo (malfadado euromillions que não tem jeito de me vir parar ao bolso): ...uma oração no Nepal...uma caminhada nos Andes...tatuagens na Amazónia....cruzar o deserto com os Tuaregues...conduzir uma piroga na Papua...pescar no árctico...mergulhar nu num lago da Patagónia...entre tantas outras coisas sobre as quais li, vi reportagens, ou que nunca ouvi falar...

...mas a ocidentalização impulsiona a aculturação...e se por um lado fico contente (segurança, saúde, educação, higiene)...por outro lado fico triste, pois é na diferença que se evolui...e é o diferente que nos apaixona...

Obviamente, faço uma separação entre deixar uma cultura "evoluir e estar em paz", e olhar descontraidamente para ela enquanto esta morre de fome e/ou guerra...mas custa-me a ideia do "nós é que estamos correctos, tens de ser como nós, nem que te obriguemos"...

...hoje, esta imagem marcou-me...bem como o filme, que me fez reflectir sobre os reais Direitos Humanos que temos e defendemos...sendo que o direito à cultura e a um local para habitar fazem parte desses direitos...
...contudo...países desenvolvidos obrigam indígenas a abandonar o local onde sempre viveram, para que se possa produzir mais electricidade...que os indígenas despejados não consomem...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sol da Caparica

...É incrível...
...quem diria que um espaço de tempo tão curto, numa vivência tão peculiar, poderiam ter efeitos tão profundos em mim...

...algum tempo depois, tornei a passar a 25 de Abril com destino à FCT...objectivo: ir pedir um comprovativo das cadeiras que lá fiz, enquanto lá andei no mestrado...e enquanto lá morei a part-time...

...e é exactamente esse conceito de part-time que hoje me intriga...será que estive na Caparica a part-time...ou será que estive na Vieira a part-time? ...a verdade é que o copo é "meio-cheio" para qualquer uma das duas...mas, sinceramente, hoje senti que foi lá que estive...e não a part-time...saudosismo?...modo de vida desejado (a.k.a. cigano)?...ou simplesmente etapa da minha vida que tanto adorei?

...a verdade é que não sei responder...mas sinto uma felicidade genuína quando penso na minha estadia lá...felicidade essa que aumenta quando me vejo no tabuleiro da ponte, enquanto o JC do Pragal ameaça bater palmas...

...saudades da vida sem poiso certo...saudades da descoberta pessoal...saudades da emoção que ficou após o largar "lastro" e partir...saudades das emoções dispares, mas complementares, vividas entre a Vieira e a Caparica...


...Coimbra marcou...Caparica marcou...acho que me vou mudar pá Coina...
=)

...brincadeirinha...mais facilmente voltava à margem sul...talvez por nunca ter sido lá roubado, mas identifiquei-me...e, de certa forma, descobri-me um pouco mais...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O polvo

Estava um crustáceo a apanhar banhos de sol numa praia vazia...que continuou vazia durante muito tempo......a praia em causa, devido à maré-cheia, era muito pequenina...mas, à medida que a maré descia, a praia ia aumentando, e os outros crustáceos que chegavam à praia iam tendo, a pouco e pouco, espaço para bronzear as suas antenas...sem terem de se pôr uns "em cima dos outros"...pelo menos obrigatoriamente =)

..até que...do nada...uma família de polvos saída sabe-se lá de onde, resolve assentar arraiais mesmo em cima do crustáceo que antes estava só...ao ponto do referido animal ter de se afastar para que os polvos pudessem explanar todas as suas ventosas pelo areal...

Ainda há por aí muito animal que pensa que educação, respeito e bom-senso são sinónimos de permissividade e espírito fraco...da mesma maneira que se auto-considera o expoente máximo da adaptação ao meio (Darwinismo)...

O Mar já estava mau...não ia adiantar nada armar ondas só porque os demais estavam armados em parvos...cheguei-me pó lado e continuei a cozedura...

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Prancha

O meu pai tem a mania que é pescador...
...desde que me lembro que, volta e meia, durante uma viagem qualquer, ele dizia "vamos parar aqui só 5 minutos pa eu dar umas cacetadas no mar"...e assim se passavam duas horas, à espera dele...meia hora em que me mantinha entretido com a faina, e hora e meia de seca pura e dura...

Mas o hábito de pesca do meu pai também tinha coisas excelentes...uma delas, a minha favorita, era ir passar o dia ao Baleal, ao Osso da Baleia, ao Samouco ou ao Salgado...saíamos de casa cedo, com o farnel, as tralhas da pesca, os chapéus-de-sol, as raquetes, a bola de futebol, os baldes de plástico e, não menos importante, a prancha de skimming do meu irmão...

...na altura, eu tinha uma tara com aquele prancha...a mesma que tive com o skate que me afiou o queixo...eu queria, À FORÇA, ser capaz de a atirar para a água...correr atrás dela...saltar-lhe para cima...e manter-me em pé lá em cima........pois bem, os três primeiros passos era fáceis...atirava-se a prancha...corria-se atrás dela...saltava-se...e assim que havia contacto entre os pés e a prancha, a prancha fugia e eu tornava a bater com o cu na areia...
...as praias em causa não são propriamente de areia fina...são de areão...e, em algumas das zonas, o areal tinha mais pedras e conchas que areia...pelo que não havia um único fim de tarde em que eu, de tanto cair, não tivesse o cu e pernas completamente encarnadas e arranhadas (relembro que, nos anos 80 e 90, criança que é criança, usava cueca de banho... - EU NÃO TINHA ESCOLHA!!)...

...Hoje em dia, quando estou na praia e vejo passar alguém com uma prancha de surf ou bodyboard, acho engraçado e sinto um bocadinho de inveja, porque tenho vindo a adiar a experiência sem necessidade...mas quando vejo uma prancha de skimming, dá-me vontade instantânea de agarrar nela e de tentar mais uma vez meter-me lá em cima...mas, como prevejo novo esbardalhanço com consequentes dores e vergonha social...adio a vontade...até porque depois não estaria lá o meu irmão ao lado pa se rir e, com calma, me tornar a explicar como é que "a coisa" funciona, enquanto a minha mãe olhava de longe e o meu pai se ria com aquela cara de "este gajo não aprende"...

...as minhas aulas de skimming em praias desertas são uma memória que guardo com melancolia e inconformação por não ter conseguido superar o desafio...e de cada vez que vejo uma prancha de skimming, esses sentimentos voltam...

...hoje não será diferente...como tal, vou fazer a mochila, para me tornar a pôr, a caminho da praia...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Passada Larga

A caminho da praia...
...foi assim que vivi toda a minha vida...
...mesmo quando estava à beira-mar, continuava a caminho da praia...a caminho da "minha" praia...de mim...de quem queria ser...do que queria fazer...daquela forma de sentir...de uma determinada forma de estar...e isso talhou-me a personalidade, curiosamente, não de forma lenta, como as ondas moldam as rochas, mas de forma afincada e profunda, como o indígena escava à canoa com que se faz ao largo, em busca do peixe que o alimenta...

Em tempos, várias vezes dei por mim a necessitar da praia...para refúgio, consolo e compreensão sem questões, mas também para alegria, emoção, partilha ou, simplesmente, "porque sim!"...
...fui a pé...
...fui de bicicleta, a conduzir...
...fui de bicicleta, à pendura...
...fui de mota...
...fui de carro...
...fui de autocarro...
...e se o homem não tivesse lá perto, juro que naquele dia, teria ido de barco...

...fui na Primavera e no Verão...
...mas nunca deixei de lá ir só porque era Outono ou Inverno...até porque o Mar fica verde...e é quando é mais hipnótico olhá-lo...

...deitei-me na areia como uma sardanisca ao sol...
...sentei-me nas rochas como "poeta mal amado", olhando a praia, as luzes e os cães que correm na areia...
...deambulei pela praia à chuva...
...já fiz de tudo um pouco...

...mas, como a própria praia vos dirá, sou um de muitos...

Hoje, resolvi ir a pé para a praia outra vez...calcorreando os cerca de 3 km que me separam de enfiar os pés na areia e o cu na água (tb molho o resto do corpo, mas não dá uma expressão tão "coisa" - parafraseando as gerações "adicionáricas")...e foi quando me apercebi que, de vários modos, a praia é o meu destino...quer seja uma praia física com água, areia e gelados, quer seja uma praia metafísica ou um objectivo de vida...(...)....e neste pensamento me perdi eu, a caminho da praia...



NOTA: este autor deixou de usar o Acordo Ortográfico
 por este ser uma banhada tão grande, que todos os 
países de língua portuguesa o rejeitaram.