terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Prancha

O meu pai tem a mania que é pescador...
...desde que me lembro que, volta e meia, durante uma viagem qualquer, ele dizia "vamos parar aqui só 5 minutos pa eu dar umas cacetadas no mar"...e assim se passavam duas horas, à espera dele...meia hora em que me mantinha entretido com a faina, e hora e meia de seca pura e dura...

Mas o hábito de pesca do meu pai também tinha coisas excelentes...uma delas, a minha favorita, era ir passar o dia ao Baleal, ao Osso da Baleia, ao Samouco ou ao Salgado...saíamos de casa cedo, com o farnel, as tralhas da pesca, os chapéus-de-sol, as raquetes, a bola de futebol, os baldes de plástico e, não menos importante, a prancha de skimming do meu irmão...

...na altura, eu tinha uma tara com aquele prancha...a mesma que tive com o skate que me afiou o queixo...eu queria, À FORÇA, ser capaz de a atirar para a água...correr atrás dela...saltar-lhe para cima...e manter-me em pé lá em cima........pois bem, os três primeiros passos era fáceis...atirava-se a prancha...corria-se atrás dela...saltava-se...e assim que havia contacto entre os pés e a prancha, a prancha fugia e eu tornava a bater com o cu na areia...
...as praias em causa não são propriamente de areia fina...são de areão...e, em algumas das zonas, o areal tinha mais pedras e conchas que areia...pelo que não havia um único fim de tarde em que eu, de tanto cair, não tivesse o cu e pernas completamente encarnadas e arranhadas (relembro que, nos anos 80 e 90, criança que é criança, usava cueca de banho... - EU NÃO TINHA ESCOLHA!!)...

...Hoje em dia, quando estou na praia e vejo passar alguém com uma prancha de surf ou bodyboard, acho engraçado e sinto um bocadinho de inveja, porque tenho vindo a adiar a experiência sem necessidade...mas quando vejo uma prancha de skimming, dá-me vontade instantânea de agarrar nela e de tentar mais uma vez meter-me lá em cima...mas, como prevejo novo esbardalhanço com consequentes dores e vergonha social...adio a vontade...até porque depois não estaria lá o meu irmão ao lado pa se rir e, com calma, me tornar a explicar como é que "a coisa" funciona, enquanto a minha mãe olhava de longe e o meu pai se ria com aquela cara de "este gajo não aprende"...

...as minhas aulas de skimming em praias desertas são uma memória que guardo com melancolia e inconformação por não ter conseguido superar o desafio...e de cada vez que vejo uma prancha de skimming, esses sentimentos voltam...

...hoje não será diferente...como tal, vou fazer a mochila, para me tornar a pôr, a caminho da praia...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Passada Larga

A caminho da praia...
...foi assim que vivi toda a minha vida...
...mesmo quando estava à beira-mar, continuava a caminho da praia...a caminho da "minha" praia...de mim...de quem queria ser...do que queria fazer...daquela forma de sentir...de uma determinada forma de estar...e isso talhou-me a personalidade, curiosamente, não de forma lenta, como as ondas moldam as rochas, mas de forma afincada e profunda, como o indígena escava à canoa com que se faz ao largo, em busca do peixe que o alimenta...

Em tempos, várias vezes dei por mim a necessitar da praia...para refúgio, consolo e compreensão sem questões, mas também para alegria, emoção, partilha ou, simplesmente, "porque sim!"...
...fui a pé...
...fui de bicicleta, a conduzir...
...fui de bicicleta, à pendura...
...fui de mota...
...fui de carro...
...fui de autocarro...
...e se o homem não tivesse lá perto, juro que naquele dia, teria ido de barco...

...fui na Primavera e no Verão...
...mas nunca deixei de lá ir só porque era Outono ou Inverno...até porque o Mar fica verde...e é quando é mais hipnótico olhá-lo...

...deitei-me na areia como uma sardanisca ao sol...
...sentei-me nas rochas como "poeta mal amado", olhando a praia, as luzes e os cães que correm na areia...
...deambulei pela praia à chuva...
...já fiz de tudo um pouco...

...mas, como a própria praia vos dirá, sou um de muitos...

Hoje, resolvi ir a pé para a praia outra vez...calcorreando os cerca de 3 km que me separam de enfiar os pés na areia e o cu na água (tb molho o resto do corpo, mas não dá uma expressão tão "coisa" - parafraseando as gerações "adicionáricas")...e foi quando me apercebi que, de vários modos, a praia é o meu destino...quer seja uma praia física com água, areia e gelados, quer seja uma praia metafísica ou um objectivo de vida...(...)....e neste pensamento me perdi eu, a caminho da praia...



NOTA: este autor deixou de usar o Acordo Ortográfico
 por este ser uma banhada tão grande, que todos os 
países de língua portuguesa o rejeitaram.